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segunda-feira, 2 de março de 2020

Vamos falar sobre a raiva?

Como educadora emocional, a mãe que sou se deparou com uma situação cotidiana que exigiu meus conhecimentos e aquelas tomadas de decisão rápidas - dessas em que o avião está caindo e você tem que escolher quem salvar porque só tem um paraquedas!😉😄

O fato: a péssima da Pulguinha (a cadela que a Cecília ama de paixão e que sempre a defendeu aqui em casa de suas múltiplas travessuras, sim, essa mesma) entrou furtivamente no quarto da Ceci, na calada da noite, esquartejou e comeu a Lol Surprise preferida da Ceci: a marinheira!!😱😱😱

Pela manhã, fui dar a infeliz notícia pra Ceci... seu rosto se desmanchou na minha frente numa personificação da dor. Em seguida ela se jogou na cama e chorava como se tivesse perdido um filho. Mas, pra ela era isso mesmo. Só que do choro veio a expressão da raiva, numa explosão de frases como "eu quero doar a Pulga!!" "A Pulga não vai mais morar aqui" e "a culpa é sua, mãe, porque vc saiu do meu quarto e não fechou a porta!!".

Bem, duas emoções fortes e desagradáveis ao mesmo tempo: a tristeza e a raiva. Irmãs na força e na destruição. Que fazer como mãe? Negar tais emoções dentro dela? Reprimir, dizendo que é errado senti-las nessa intensidade? Me escandalizar pela forma e a força com que ela sente tais emoções?

Como sou uma educadora emocional, na urgência da situação, meio atônita pelo conjunto da obra, lembrei de Jesus que, no meio da turba descontrolada pela raiva e que queria fazer cumprir a Lei da época e apedrejar até a morte a adúltera: ficou em silêncio, escrevendo no chão. Decidi abraçar minha filha irada e dolorida, trazendo-a para meu peito e colo: em silêncio, fiquei escrevendo a palavra "amor" no seu peito (mentalizando essa escrita) e acariciava sua ira com mansidão e respeito. Optei por acolher sua ira e tristeza sem julgamentos e aguardar que elas fossem embora.
Felizmente, emoções são reptilíneas portanto, são tão rápidas como autônomas, se extinguem como a pólvora no fogo, e Cecília foi voltando a raciocinar com o neocortex: ainda choramingando muito perguntou "e agora, mãe? O que eu vou fazer? Ela era a minha preferida!!! Era minha filhinha!!" - que dor!!

Foi a minha deixa para mediar. Respondi o mais doce que eu podia que se ela pudesse esperar eu iria comprar outra filhinha pra ela, enquanto isso podíamos resgatar o que havia sobrado da boneca pra criar outro brinquedo, outra forma de personagem, algo assim. Cecília foi ficando mais calma e mais animada com a criação de outro brinquedo, foi pedindo logo pra ver o que sobrara - era um bom sinal, significava que sua dor havia diminuído tanto que já poderia ver a boneca "morta" sem sofrer tanto.
Mostrei e ela foi passando pelo luto do brinquedo, um processo que precisava ser respeitado. Deixei-a ali ensimesmada. Depois propus outras brincadeiras e assim o dia foi passando levemente e sem maiores consequências da perda. Perguntei se ela ainda queria dar a Pulguinha e ela olhou matreira pra mim e disse que não. Sinal de que a raiva havia sido posta pra fora totalmente e não sobrara sentimento algum de magoa ou ressentimento que maculasse aquela relação.

À tardinha de ontem, o pai dela meio que leu meus pensamentos (porque ele não estava em casa quando se deu a cena da raiva e da tristeza) e trouxe uma Lol nova. Escondido, colocou uma sacolinha no pescoço da Pulguinha. A Bicha péssima parecia que sabia o que estava acontecendo!! Ficou tão submissa pra sacolinha no seu pescoço e foi levada até a Cecília que gargalhou solto e com os olhos cheios de brilho e de luz perguntou o que era aquilo. O Pai disse que era a forma da Pulguinha pedir desculpas. Cecília abraçou o pescoço da Pulga e abriu a sacolinha, morrendo de surpresa e espanto quando viu a Bolinha em que Lol sempre vem. Daí em diante foi só sorrisos, cuidados e afetos pela filha!!

Hoje pela manhã, ela pegou o vestidinho de marinheira da Lol sepultada. Vestiu no dedo, fez uma caretinha e veio me mostrar a brincadeira, imitando a bonequinha. Pronto: era o final do processo todo, com êxito e louvor!!!👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻


Quero te dizer que todo momento da nossa vida é de aprendizado. E não é porque se é criança que deve ser menosprezadas suas emoções e muito menos seus sentimentos. A emoção é rápida e acaba logo. Mas, os sentimentos são a nossa resposta aquela emoção. Devemos ajudar nossos filhos e filhas, netos e netas, sobrinhos e sobrinhas, qualquer criança que esteja sob a sua responsabilidade a acolher e aceitar como normal suas emoções desagradáveis como a ira e a tristeza porque elas são humanas, fazem parte de nós, da nossa fisiologia. Não é errado estar sob o domínio delas. O que precisamos aprender, e ensinar à eles, é como lidar com essas emoções no ato, no durante e no depois que elas passam. E, por fim, gerenciar esses sentimentos que ficam depois que passa a emoção.
Nossa sociedade precisa falar sobre as emoções desagradáveis como a dor, a tristeza, o medo, a ira... porque elas devem sair de dentro de nós. Não existem para ficar dentro de nós, reprimidas e colocadas como bandidas da vida. Elas devem ser resgatadas ao seu papel principal dentro da nossa formação como seres humanos, validá-las, acolhe-las e aprender com elas!!
O planeta precisa de pessoas que saibam sensibilizar as relações nos diversos espaços em que convivemos. Pessoas que saibam acolher a si mesmas, compreender suas ações e reações e gerenciar esse turbilhão autônomo que é o cérebro límbico, onde se iniciam as emoções.
Só assim, alcançaremos aquilo que viemos fazer neste mundo: CRIAR A NOSSA MELHOR VERSAO DE NÓS MESMOS.

Paz e bem pra nós e que um mundo novo sempre é possível de existir dentro de cada um de nós. Sejamos essa mudança. 

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