Por que estou me sentindo
assim?
Aposto que você já se viu,
repentinamente, querendo se encolher, não ser visto, passar despercebido; ou
então, se aborrece com tudo e com todos, ficando na defensiva e achando que
todos estão "pensando ou comentando" algo contra você. Também acontece de você fazer algumas escolhas ou ter atitudes que parecem inocentes, mas que lá na frente se revelam ter sido escolhas desastrosas ou ações que causam culpa, arrependimento, mal estar generalizado.
Enquanto esse turbilhão acontece quase de forma autonônoma no seu interior, racionalmente você não consegue enxergar o motivo real para estar ou sentir-se assim. Tenso, né? Vamos te ajudar um pouquinho a compreender o mecanismo das emoções dentro do seu cérebro.
Enquanto esse turbilhão acontece quase de forma autonônoma no seu interior, racionalmente você não consegue enxergar o motivo real para estar ou sentir-se assim. Tenso, né? Vamos te ajudar um pouquinho a compreender o mecanismo das emoções dentro do seu cérebro.
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Em vermelho, a localização da ínsula no cérebro |
Em primeiro lugar, te apresento uma das maiores responsáveis por todo esse estrago dentro de você: a ínsula.
Do tamanho de uma ameixa
seca, a ínsula trabalha em parceria com outras duas estruturas cerebrais, o
córtex pré-frontal e a amígdala (velhos conhecidos dos estudiosos no controle
de diversas emoções).
A ínsula funciona como
uma espécie de intérprete do cérebro ao traduzir sons, cheiros ou sabores em
emoções e sentimentos como nojo, desejo, orgulho, arrependimento, culpa ou
empatia. “Ela dá colorido psíquico às experiências sensoriais”, diz o
neurocirurgião Arthur Cukiert. Ou, como definiu o psiquiatra americano Martin
Paulus, professor da Universidade da Califórnia, é na ínsula que o corpo e a
mente se encontram.
Nas pesquisas mais
antigas sobre as emoções, nunca se ouviu falar sobre a ínsula com toda essa
responsa que agora está sendo reconhecida porque ela era de difícil acesso
dentro do cérebro para pesquisar e estudar. Nos últimos dez anos, graças ao
aperfeiçoamento dos exames de imagens, como a ressonância magnética funcional,
a ínsula despertou a atenção dos neurocientistas. Flagrada em pleno
funcionamento, já se viu que ela é ativada toda vez que alguém ri de uma piada,
ouve música, reconhece expressões de tristeza no rosto de outra pessoa, quer se
vingar ou decide não fazer uma compra.
Como se trata de uma área
de pesquisa relativamente nova, a ciência ainda não conseguiu esmiuçar todas as
funções da ínsula. De qualquer forma, as descobertas recentes sobre a ínsula
são uma fonte preciosa de informações sobre a anatomia das emoções. Um dos
grandes estudiosos do tema é o neurocientista português António Damásio. Ele
busca em seus estudos a base biológica das emoções e da consciência humanas.
“Os sentimentos não são nem inatingíveis nem ilusórios. São o resultado de uma
curiosa organização fisiológica que transformou o cérebro no público cativo das
emoções teatrais do corpo”, escreveu Damásio no livro O Erro de Descartes. Isso
significa que, no exemplo do início do texto, existe sim um motivo responsável
pela sua repentina mudança de humor ou estado emocional: algum cheiro, uma
frase, um olhar, uma cor, uma piada, qualquer situação que ative a ínsula, faz
com que uma engrenagem de hormônios seja jorrada no seu cérebro, provocando a
mudança de seu estado emocional. Experiências sensoriais são transformadas em
emoções e sentimentos como nojo, desejo, decepção, culpa, ressentimento,
orgulho, humilhação, arrependimento, compaixão e empatia. Todo esse mecanismo é
ativado pela ínsula.
As pesquisas de Joseph LeDoux
sobre o funcionamento cerebral explicam, por exemplo, que alguém seja capaz de
detectar o perigo antes mesmo que uma situação de ameaça aconteça. Isso
significa que a reação bioquímica ativada pela ínsula é anterior a emoção.
A ANATOMIA DAS EMOÇÕES
O ser humano possui em
seu cérebro uma estrutura chamada de sistema límbico, responsável pelas emoções
e sentimentos. O sistema límbico, quando recebe um estimulo, sensitivo
(Audição, paladar, visão, olfato), envia essas “informações” para o tálamo
e hipotálamo que elabora respostas aos
estímulos através do sistema endócrino e do sistema nervoso autônomo.
Automaticamente produzem repostas, ativando esses sistemas, e então temos um
estado, que são as emoções e sentimentos manifestos. Sistema Límbico é o nome
dado às estruturas cerebrais que coordenam o comportamento emocional e os
impulsos motivacionais e é formado por diversas estruturas localizadas na base
do cérebro.
De acordo com Ballone, os
sentimentos e emoções, como amor, alegria, ódio, pavor, ira, paixão e tristeza
tem origem no Sistema Límbico. Chama-se circuito de Papez a porção do Sistema
Límbico relacionada às emoções e seus estereótipos comportamentais. Toda essa
estrutura não funciona sozinha mas, interligada a outras áreas do cérebro. Porém,
de maneira aproximada, e para fins de entendimento aqui no texto, podemos dividir
o sistema límbico em:
1. Hipocampo
Esse elemento está
relacionado com a transformação da memória recente pela memória de longo prazo
e a memória autobiográfica. O encontramos na parte central do lóbulo temporal
(1) e também tem uma importante função relacionada à orientação e à memória
espacial.
2. Amígdala ou amígdala
cerebral
A amígdala ou corpo
amigdalino é uma massa de neurônios em forma de uma amêndoa localizada em um
dos lóbulos temporais (2). Essa zona do sistema límbico está relacionada com a
formação e o armazenamento de memória associada a feitos e acontecimentos que nos
produziram fortes emoções. Se diz que a amígdala cerebral é a sede de todas as
emoções. Além disso, estudos recentes também demonstram que esse elemento tem
uma forte implicação na consolidação da memória.
3. Tálamo e hipotálamo
O tálamo é definido como
a estrutura cerebral situada em cima do hipotálamo (3). Todos os estímulos
sensoriais (menos o olfato) passam por essa região do nosso sistema límbico
para depois se derivar a zonas mais específicas. Essa parte do nosso cérebro
tem a função principal de se comportar como núcleo de conexão e associação de
estímulos e informação de caráter emocional.
Já o hipotálamo é um
pequeno elemento de nosso sistema nervoso emocional (4), mas que possui muitas
funções neuroniais. A função do hipotálamo é a de gerir e coordenar o
equilíbrio do nosso corpo. Esse equilíbrio é conhecido como hometostase e é o
processo mediante o qual nos regulamos e podemos nos manter estáveis.
Recentemente descobriu-se que o hipotálamo também percebe os níveis de uma
proteína chamada leptina quando comemos muito e, como resposta a outros níveis,
diminui o nosso apetite. Ela também regula condutas tais quais os ciclos do
sono e o mantimento da temperatura corporal.
4. Gânglios da base
Os gânglios da base
participam de forma indireta no sistema nervoso emocional. esses se encarregam
de gerir nossas respostas motoras (gestos ou expressões) relacionadas aos
estados emocionais produzidos pelas outras partes do sistema límbico.
Portanto, a partir de
hoje, você já sabe que nem todas as suas reações são “sem motivo”. A sensação
de irracionalidade sobre a forma que estamos nos sentindo parece que não vem do
nosso cérebro. No entanto, o órgão sempre relacionado à razão é o principal
causador das nossas respostas emocionais. Assim, podemos afirmar que as nossas
emoções são sim processadas pelo sistema nervoso central.
E AGORA? VOU FICAR REFÉM
DESSA ANATOMIA EMOCIONAL?
Não necessariamente. As
emoções são uma construção social que exige aprendizagem e que, por isso,
dependem da cultura em que o indivíduo está inserido. O tipo de emoção que se
manifesta em cada situação, a forma como são demonstradas, e o conjunto de
regras sobre emoções é própria em cada cultura, Isso significa que para cada cultura, há uma linguagem da emoção específica que é reconhecida por todos
aqueles que nela estão inseridos.
Segundo Casanova e outros,
para os partidários da abordagem culturalista, a emoção é um papel social que
aprendemos num certo tipo de sociedade, o que supõe que outras pessoas criadas
em outros lugares sentirão e expressarão emoções diferentes. Portanto,
alegre-se com essa abordagem culturalista, da qual este blog comunga.
Entendemos que as emoções podem ser gerenciadas através de autoconhecimento,
do entendimento dessa estrutura anatômica e fisiológica do cérebro e do
mecanismo de reações no corpo dessas sensações provocadas pela ínsula. Esta
tarefa de educar-se emocionalmente é que eu te convido para viajar comigo através das oficinas de educação emocional, de forma muito divertida e amorosa. Vamos
juntos?
Referências
BALLONE, G. J.
Representação da Realidade in. PsiqWeb, 2005. Disponível em http://virtualpsy.locaweb.com.br/index.php?sec=47&art=258.
Acesso em 19 de maio de 2011.
CASANOVA et alli (2009).
Emoções. Disponível em http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/TL0132.pdf.
Acesso em maio de 2011.
DAMÁSIO, António, (2000).
O Erro de Descartes – Emoção, Razão e Cérebro Humano. 21ª ed.,Lisboa,
Publicações Europa América. Disponível em:
http://repositorioaberto.univ-ab.pt/bitstream/10400.2/1529/1/Diserta%C3%A7%C3%A3o%20Maria%20Jo%C3%A3o%20Rosa%20Silva.pdf.
Acesso em 19 de maio de 2011.
GOLEMAN, Daniel, (1997).
Inteligência Emocional. n.a.,Temas e Debates. Disponível em:
http://repositorioaberto.univ-ab.pt/bitstream/10400.2/1529/1/Diserta%C3%A7%C3%A
3o%20Maria%20Jo%C3%A3o%20Rosa%20Silva.pdf. Acesso em 19 de maio de 2011.
LEDOX, Joseph. O cérebro
emocional. Objetiva; Edição: 1, 1998.
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